O Millenium - Grande Tribulação já se cumpriu no século 1

Autoria

Apocalipse

A autoria joanina de Apocalipse é de um consenso quase universal. William Hendriksen dá o seguinte testemunho:

"A igreja primitiva quase unanimemente atribui o Apocalipse ao apóstolo João, e essa era a opinião de Justino, o mártir (140 d.C.), de Irineu (180 d.C.) que foi discípulo de um discípulo do apóstolo João, do Cânon Muratoriano (200 d.C.), de Clemente de Alexandria (200 d.C.), de Tertuliano de Cartago (220 d.C.), de Orígenes de Alexandria (223 d.C.) e de Hipólito (240 d.C.).” William Hendriksen. Más que Vencedores. 1965: p. 9. Hernandes Dias Lopes, Apocalipse: O Futuro Chegou, as Coisas que em Breve Devem Acontecer, 1a edição., Comentários Expositivos Hagnos (São Paulo: Hagnos, 2005).

Respostas às constatações contra a autoria Joanina

É de uma árdua missão tirar a autoria Joanina do Livro de Apocalipse. Porém é de bom proveito mencionar aqui as discussões acerca da autoria de apocalipse. Uma constatação contra a autoria Joanina é pelo fato de não ter outra menção clara além do nome “João”. Seria de fato uma suposição a autoria joanina, visto que o testemunho próprio do livro cita o nome de João sem qualquer outra especificação mais clara? Observe o testemunho do livro:

  • 1.1 Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João
  • 1.4 João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono
  • 1.9 Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
  • 22.8 Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo.
Adolf lidando com as constatações diz:

“Há sobretudo duas constatações que causam dificuldades. Apesar de que, pelo vocabulário e estilo, o Apocalipse pertence inequivocamente ao campo dos demais escritos joaninos, ao mesmo tempo, diferenças evidentes que causam dúvidas sobre uma autoria da mesma pessoa. Isso vale em segundo lugar também para o universo intelectual. Apesar da freqüência com que o comentário pode apontar para paralelos úteis entre o evangelho de João e as cartas dele por um lado, e o Apocalipse por outro, não há como negar diferenças de conceitos e linguagem. (Termos axiais do quarto evangelho como “luz”, “trevas”, “fé”, “amor”, “verdade”, “graça”, “paz” faltam no Apocalipse ou desempenham um papel apenas subordinado, sendo em geral também carregados com conteúdos um pouco diferentes. Ocasionalmente o comentário indicará tais diferenças.)”

Osborn, sobre esse ponto, também dá o seu parecer em seu comentário:

“Outras questões também contribuíram para atribuir o livro a outra pessoa diferente de João, o apóstolo. Primeiro, a linguagem é diferente dos outros escritos joaninos, com o uso do grego de modo frequentemente desajeitado e desastroso — misturando pronomes, gênero ou casos, e produzindo sentenças quebradas. Entretanto, isto também pode ser visto como um estratagema deliberado: O autor está usando a linguagem para atrair o leitor para as emoções poderosas causadas pelas visões extasiantes e as imagens que elas contêm. O uso do grego então não seria tão desajeitado quanto emocionalmente carregado, usado para dar certa ênfase teológica.” Grant R. Osborne, Apocalipse, trans. Renato Cunha, Comentário Expositivo do Novo Testamento (Bellingham, WA; São Paulo: Lexham Press; Editora Carisma, 2023), 21–22.

Adolf argumenta que:

“A meu ver, a favor dessa tese há o fato de que após sua redação o Apocalipse rapidamente alcançou grande disseminação. Quando damos ouvidos aos testemunhos frequentes e positivos da Ásia Menor, Gália, África, Egito, Itália e Síria, parece que no início do século II os cristãos não leram nenhum outro livro do Novo Testamento com tanto afinco como este. Todas as listas canônicas mais antigas do século II arrolam este livro. (Bousset e Zahn citam pormenorizadamente as provas.)”

“Além deste fato, considere-se o segundo aspecto: desde o começo a obra foi lida com a maior naturalidade como obra do filho de Zebedeu. (O testemunho mais antigo encontra-se em Justino mártir, Diálogo com Trifão 81.4, anterior ao ano 160.)

“Como, afinal, o livro de um João desconhecido qualquer teria alcançado tamanho eco? Como um equívoco da questão da autoria poderia ter-se espalhado com tanta rapidez na província da Ásia? Milhares de fiéis sabiam da deportação do “velho” do seu meio para a ilha de Patmos (a idade avançada de João em Éfeso está comprovada com segurança).”

Adolf Pohl, Comentário Esperança, Apocalipse de João (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001), 33.

Somente por volta de 170 d.C surge um pequeno grupo eclesiástico os chamados “Álogos”, que combatem a autoria tradicional Joanina. Isso significa que até o ano 170 d.C a autoria Joanina estava intacta!

“Todos estes homens não esconderam seu desconforto com o conteúdo do livro, mas encontravam-se num aperto diante da autoria apostólica. Não podiam atacar o apóstolo. Em decorrência, criaram para si um segundo João, ao qual atribuíram, então, a obra. Com isso, o livro estava liberado para ataques!” Adolf Pohl, Comentário Esperança, Apocalipse de João (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001), 34.

Evidencia interna e externa da autoria Joanina

Tertuliano informa, por volta de 200, que o imperador Domiciano mandara trazer para Roma, no começo da época da perseguição, não somente aqueles dois parentes de Jesus (cf. qi 7), mas também a última testemunha ocular do tempo de vida de Jesus, João, o “velho”, que liderava as igrejas da província da Ásia a partir de Éfeso. Em Roma, o imperador teria mandado inquirir e torturar o apóstolo (a tradição fala de mergulhar em óleo fervente) e depois banir para Patmos. Se essa notícia for correta, haveria uma amarga experiência pessoal de Roma por trás da descrição do Apocalipse acerca da cidade das sete colinas com seu luxo insano e sua obsessão tentadora, com vaidade e vícios, com terror e derramamento de sangue, e com toda a sua maturidade para o juízo (Ap 17).

Tertuliano (160–220), em: De Praescriptione Haereticorum, 36.
Adolf Pohl, Comentário Esperança, Apocalipse de João (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001).

Existem pelo menos cinco pessoas chamadas João:

João Batista (Mt 3)

João, o filho de Zebedeu (Lc 5.10)

João, pai de Simão Pedro (Jo 21.15-17)

João Marcos (At 12.12)

E João, que pertencia a família do Sumo Sacerdote (At 4.6)

Se trata de um nome comum na cultura judaica que provem de Yohanan no hebraico, e em grego Ionannes.

Assim, na primeira metade do século 2° (por volta de 135), Justino Mártir escreveu:

“Havia um homem entre nós, cujo nome era João, um dos apóstolos de Cristo, que profetizou por meio de uma revelação concedida a ele”.
Justino Mártir, Dialogue with Trypho 81, em The ante-nicene fathers, org. Alexander Roberts e James Donaldson, vol. 1, The apostolic fathers, Justin Martyr, and Irenaeus (reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, s.d.), p. 240. Vale notar que o tempo que se passara entre a morte de João (provavelmente em 98 d.C.) e o comentário de Justino Mártir abrangia menos de quarenta anos, ou seja, testemunhas oculares ainda poderiam comprovar a veracidade da sua afirmação. Irineu (Eusébio Hist. ecl. 3.39.5–6) escreve que o apóstolo João viveu até “os tempos de Trajano”, que foi imperador de 98 a 117. Simon Kistemaker, Apocalipse, trans. Jonathan Hack, Markus Hediger, e Mary Lane, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014).

O autor do fragmento muratoriano, datado de cerca de 175 d.C., atribui o Apocalipse a João, que ele considerava ser o apóstolo.

Por volta de 180, Irineu comentou ter conhecido pessoas que haviam visto o autor do Apocalipse. Supomos que as pessoas que ele tinha em mente devem ter sido Papias e Policarpo, discípulos do apóstolo João.

Veja Irineu, Contra heresias 3.11.3; 4.20.11; 4.35.2; 5.30.1; e Eusébio Hist. Ecl. 5.8.5. Simon Kistemaker, Apocalipse, trans. Jonathan Hack, Markus Hediger, e Mary Lane, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014)

Segundo Simon, “Ele também mencionou que João escrevera durante o reinado do imperador Domiciano (81–96). E Melito, o bispo de Sardes e contemporâneo de Irineu, escreveu um comentário – que se perdeu – sobre o Apocalipse de João. Os escritores das primeiras décadas do século 3° (Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, Hipólito e Cipriota) consideravam o apóstolo João o autor do Apocalipse. Resumindo, os escritores do início do século 2° até a metade do século 3° apoiam fortemente uma autoria joanina. Os ataques contra a integridade do Apocalipse, lançados pelos alogianos da Ásia Menor e pelos seguidores de Gaio em Roma naquele tempo, são insignificantes.

Simon Kistemaker, Apocalipse, trans. Jonathan Hack, Markus Hediger, e Mary Lane, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014), 32–33.

No século 3°, Dionísio de Alexandria, que produziu de 231 até 264, questionou a autoria firmemente estabelecida de João, o apóstolo. Ele havia viajado a Éfeso, onde ficara sabendo de dois túmulos reivindicados como sendo de João. Ele presumiu que um deles pertencia a João, o presbítero; e o outro, a João, o apóstolo. Dionísio não encontrou nenhuma referência a uma autoria apostólica no livro de Apocalipse. Ele estudou a escolha de palavras, a dicção, o estilo e a linguagem do Apocalipse, comparou-os com o Evangelho e as epístolas de João e concluiu que o autor teria sido não João, o apóstolo, mas João, o presbítero. Ele se baseou numa afirmação que Papias fizera mais de um século antes e que, mais tarde, foi citada por Eusébio (Hist. ecl. 3.39.4) em 325 d.C.:

“Mas quando chegava alguém que havia conhecido os presbíteros, perguntava a respeito das palavras dos presbíteros, querendo saber o que André, ou Pedro, ou Felipe, ou Tomé, ou Tiago, ou João, ou Mateus, ou qualquer outro dos discípulos de Jesus havia dito, e o que Aristion e o presbítero João, os discípulos do Senhor, estavam dizendo. Isso porque eu não supunha que a informação obtida por meio de livros me ajudaria tanto quanto a palavra de uma voz viva e sobrevivente.” Eusébio: Ecclesiastical History, trad. Kirsopp Lake e J. E. L. Oulton, 2 vols., LCL (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1926–1932), 1:293.

O grego indica claramente que Papias usa o pretérito (havia dito) para falar dos apóstolos já mortos; e o presente (estavam [lit., estão] dizendo) para aqueles que ainda estavam vivos. Com a repetição da expressão o presbítero João, Papias indica que está falando da mesma pessoa, ou seja, de João, o discípulo e apóstolo do Senhor, que era o único dos doze apóstolos que ainda estava vivo.

Erros gramaticais reforçam a autoria Joanina

Ao comparar o Evangelho de João com o Apocalipse, Dionísio de Alexandria comentou corretamente que, enquanto o Evangelho e as epístolas de João tinham muito em comum, o mesmo não valia para o Evangelho e o Apocalipse. Ele disse:

“Mas o Apocalipse é fundamentalmente diferente e alheio a esses escritos; não tem, por assim dizer, nenhuma sílaba em comum com eles”. Eusébio, Hist. ecl., 7.25.22

Obviamente é um grande exagero da parte de Dionísio. O Evangelho de João e as epístolas que, escritos poucos anos antes do Apocalipse [segundo Simon João escreve o Evangelho e as cartas antes de Apocalipse, esta não é a posição deste livro], apresentam um grego de qualidade aceitável sem as construções incomuns encontradas no Apocalipse. Porém observe a diferença dos gêneros: o Evangelho é um relato direto da vida e dos ensinamentos de Jesus, mas o Apocalipse é um desvelamento de cenas celestiais. Podemos notar também que há uma série de termos que são iguais tanto no Evangelho como em Apocalipse:

  • água da vida (Jo 4.10–11; 7.38; Ap 21.6; 22.1, 17)
  • vinho (Jo 15.1, 4–5; Ap 14.18–19)
  • vencer (Jo 16.33; Ap 2.7, 11, 17, 26; 3.5, 12, 21; 21.7)
  • luz (Jo 1.4–5, 7, 8, 9, et al.; Ap 18.23; 21.24; 22.5)
  • amor (Jo 13.35; 15.9–10, 13; 17.26; Ap 2.4,19)
  • testemunhar (Jo 1.7–8, 15, 32, 34, et al.; Ap 1.2; 22.16, 18, 20)

Simon Kistemaker, Apocalipse, trans. Jonathan Hack, Markus Hediger, e Mary Lane, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014), 37.

Swete escreve:

“Das 913 palavras usadas no Apocalipse, 416 também são encontradas no Evangelho, mas as palavras que os dois livros têm em comum ou são do tipo mais usado ou são compartilhadas também por outros escritores do N[ovo] T[estamento]”. Swete, Revelation, p. cxxvii

As diferenças dizem respeito a grafias diferentes da palavra Jerusalém e a um sinônimo para a palavra cordeiro…

“O quarto Evangelho apresenta duas vezes a palavra grega amnos (cordeiro, Jo 1.29, 36), empregada por João Batista, e uma vez usa o termo arnion (cordeiro, Jo 21.15), falado por Jesus. A primeira palavra não ocorre no Apocalipse, mas a segunda ocorre 28 vezes em referência a Jesus e uma vez em referência à besta (13.11). Assumimos que o segundo termo era um termo querido ao apóstolo.” Simon Kistemaker, Apocalipse, trans. Jonathan Hack, Markus Hediger, e Mary Lane, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014).

…Não são significativas porque transmitem a mesma ideia:

“R. H. Charles, i, ICC (Edimburgo: Clark, 1920), 1:xxx–xxxi. Charles lista alguns exemplos, e Swete (Revelation, p. cxxii) observa que são poucas as hapax legomena.””

A divergência entre os estilos do Evangelho de João e do Apocalipse é maior. Dionísio de Alexandria comparou os estilos de cada livro e comentou que o Evangelho era “escrito num grego impecável”, ilustrando assim “a maior habilidade literária” de João em relação à dicção, raciocínio e construções. E sobre o autor do Apocalipse, escreveu:

“Observo seu estilo e vejo que seu emprego da língua grega não é preciso, mas que faz uso de idiomas bárbaros, cometendo por vezes graves incorreções”. Eusébio, Hist. Ecl. 7.25.25–26.

Dionísio foi o primeiro de muitos escritores a perceber inconsistências gramaticais e fortes rupturas estruturais no Apocalipse.

“O grego do Apocalipse diverge num grau extraordinário do grego do quarto Evangelho. Ele não apresenta apenas uma liberdade maior quanto à abundância de vocabulário e fraseologias elaboradas; ele simplesmente ignora os limites da gramática.” James Hope Moulton, A grammar of New Testament Greek, vol. 2, parte 1 (Edimburgo: Clark, 1908), p. 33.

Essas incorreções são óbvias no texto grego, mas não transparecem nas traduções. São erros gramaticais: primeiro, do nominativo que segue a preposição apo (de), que rege o genitivo: “daquele que é, e que era, e que há de vir” (1.4). Depois, o nominativo está em aposição a outros casos, como é evidente na saudação “da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha” (1.5). Aqui, a preposição grega rege o genitivo dos substantivos Jesus Cristo; mas as três palavras seguintes, que deveriam estar no genitivo, estão no nominativo. E terceiro, apesar de não percebermos nenhuma ruptura na tradução, a sentença “Para aquele que nos amou, e nos libertou dos nossos pecados com seu sangue, e nos fez um reino” (1.5b–6a), no grego, o autor usa dois particípios, amou e libertou, seguidos pelo verbo finito fez. Essas são apenas as primeiras inconsistências de inúmeras outras encontradas no restante de Apocalipse.

Swete (p. cxxiii–cxxiv) apresenta uma lista das peculiaridades. Assim também Ernest B. Allo, Saint Jean l’Apocalypse, Études bibliques (Paris: Gabalda, 1921), p. cxxxv–cxlvii. Simon Kistemaker, Apocalipse, trans. Jonathan Hack, Markus Hediger, e Mary Lane, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014), 37–38.

Nós entendemos que esses erros gramaticais em apocalipse não contradiz sua autoria, confiabilidade ou inspiração divina, mas claramente nos mostra um João “novo”, que está tendo os primeiros contatos com a gramatica grega, em contrapartida do João “velho” que encontramos no Evangelho e nas cartas, onde a gramatica está impecável e madura. Não podemos negar a autoria do Apóstolo de Cristo visto que ao longo da literatura é notável seu extremo conhecimento do antigo testamento, em seus paralelos e concordâncias teológicas. Simon também diz que:

“Essas discrepâncias não são sinal de ignorância ou de lapso de memória, mas precisam ser atribuídas à intenção deliberada de João. Por exemplo, em 1.4, o autor viola a regra gramatical de apresentar um genitivo após a preposição apo, mas na oração seguinte, “e dos sete espíritos que estão diante do seu trono”, ele emprega corretamente o genitivo. Na verdade, ele usa essa preposição 31 vezes no Apocalipse, e em cada um desses casos ele a usa corretamente, com a exceção do exemplo acima mencionado. Devemos concluir que João emprega conscientemente um grego aramaico a fim de aproximar-se do idioma hebraico, mesmo a ponto de violar as regras gramaticais gregas.(Milligan (Revelation of St. John, p. 255) observa 39 ocorrências no Apocalipse.)

Daí, a expressão para aquele que remete à estrutura do verbo hebraico “eu sou” (Êx 3.14; Jo 8.58). De fato, a tradução grega do Antigo Testamento apresenta essa expressão ho eimi ho õn (Eu sou aquele que é [Êx 3.14; LXX]). E no texto grego do salmo 118.26 (117.26; LXX), ocorre a expressão hoerchomenos (aquele que está vindo). O dito “aquele que é, e que era, e que há de vir”, com o acréscimo de “o Todo-Poderoso”, ocorre como uma confirmação quádrupla da deidade, eternidade, presença e poder de Deus (1.8; 4.8). Esses quatro nomes de Deus são, para João, substantivos indeclináveis, não de uma perspectiva grega, mas do ponto de vista semítico. (Ruurd Jan van der Meulen, De Openbaring in het Laatste Bijbelboek (Utrecht: Den Boer, 1948), p. 17. Martin Kiddle (The Revelation of St. John, MNTC [Londres: Hodder and Stoughton, 1940], p. 7) escreve: “Até mesma uma paráfrase do nome imutável de Deus precisa ser protegida da declinação”.)

E, por fim, o povo judaico estava familiarizado com a interpretação da Bíblia hebraica com a ajuda de targuns aramaicos no culto da sinagoga. O rabino interpretava o Pentateuco e os Profetas com base nos targuns, as traduções aramaicas das Escrituras do Antigo Testamento.” Simon Kistemaker, Apocalipse, trans. Jonathan Hack, Markus Hediger, e Mary Lane, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014), 38–39.